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Depoimento de ex-aluna (Montreal) - Vida no Québec



"Outro dia conversando com um amigo, ele falou algo que me botou pra pensar: 'Guria, você vai estranhar um pouco o Brasil quando chegar lá…" A minha vida agora é aqui, estou acostumada com o Canadá, é provável que eu ainda olhe o país de fora mesmo estando dentro por uns dias. Mas o que eu sei sobre isso? Não sei nada. Tentei colocar no texto abaixo algumas impressões que espero que possa ajudar aos que estão vindo pra cá. Quando voltei pela primeira vez pro Brasil depois de ter passado 1 ano e 2 meses nas terras gélidas do Canadá, pensei comigo: “ai, será que depois não vou querer voltar?”. Mas queria muito rever minha família e os amigos. Mas o melhor de tudo é que o Canadá tem uma espécie de parceria com o Brasil a qual permite você de levar 2 malas de 32kg e mais 2 bagagens de mão pesando até 10kg. Quer dizer, levei muita muamba e coisas daqui, presente pra todo mundo sem nenhum problema. Aqui começam as impressões, eletrônicos no Canadá é muito barato, tudo mundo tem acesso. Mesmo um vendedor de loja ou um faxineiro pode ter um celular de última geração. Já estando no Brasil dificilmente iria conseguir comprar um iMac por 1500.00 ou um iPhone por apenas 200.00 e poder manter uma conta com acesso a internet. Isso é reflexo de uma economia estável e igualitária, na qual o salário mínimo é de quase $9 / hora, o que proporciona uma qualidade de vida superior à do Brasil. Agora o mais estranho é chegar no Brasil e descobrir que tudo continua o mesmo, o governo é o mesmo, a economia continua capengando, os políticos não mudaram, também foi só um ano… Por outro lado, continua lindo, com belas e lindas praias, com um povo bonito e caloroso. Depois que você passa um tempo fora, começa a dar valor a pequenas coisas do seu país como a cultura (aí o samba, confesso que detestava antes), a comida (nunca pensei que ia voltar morrendo de vontade de ir numa churrascaria ou num buffet por quilo pra poder comer a vontade) e os hábitos. Falando em hábitos, uma coisa que realmente me faz falta do Brasil é aquela ida semanal ao salão de beleza. Esse tipo de serviço no Brasil é muito barato, você faz as unhas por apenas 15.00 reais, sendo que aqui, esse serviço é oferecido em SPAs ou grandes centros de beleza e custam em média $30.00 a manicure e $60.00 pedicure… Claro que tive que aprender a fazer por conta própria. Cabeleireiro é a mesma coisa, um corte sem lavar custa $35.00 a $40.00. Depois de rever a família claro, a primeira coisa que fiz foi marcar um dia no salão, com direito a tudo! Outra impressão que tive, quando comecei a reencontrar os amigos, foi que tudo parecia igual à quando deixei o Brasil, como se nada tivesse mudado. Alguns casaram, outros se separaram, outros estão namorando, outros mudaram de cidade, mas a maioria continua na mesma, mesmo emprego ou com muita dificuldade de achar um que pague bem e valorize o empregado. Acho que viver fora pro um tempo te faz em um curto período de tempo experimentar milhões de coisas novas, uma cultura diferente, hábitos novos, uma outra língua que você tem que dominar pra se fazer entender. Tua vida toda muda de uma forma tão drástica, você tem experiências novas a cada dia, que parece que você, por ter ficado fora, evoluiu muito mais do que os outros, pode ser que sim, pode ser que não. Mas sua bagagem cultural com certeza está bem maior. Depois que passa aquela euforia da novidade, das primeiras experiências, dos primeiros meses, primeiro inverno, primeiro verão, tudo cai na rotina. Uma coisa que me impressionou bastante foi sair na balada em Curitiba. Fiquei impressionada como as pessoas ostentam um status social bem marcado pela aparência física, pelo que você veste, pelo que se mostra ter. Aqui eles não se preocupam muito com isso, tanto que você até se admira às vezes de ver como as pessoas são desleixadas com a aparência e até mesmo com a higiene pessoal. Isso vem um pouco da cultura francesa de não tomar muito banho e de lavar mal as roupas. Mesmo no escritório de manhã, as pessoas chegam e vem falar com você e estão com aquele cheiro… Ah, uma experiência interessante foi que, como de hábito, escovo meus dentes todos os dias depois do almoço. Um dia no banheiro do prédio escovando meus dentes, sozinha no banheiro (claro pois sou a única com esse hábito), uma mulher entra e me pergunta se tenho alguma doença porque ela me via todos os dias escovando os dentes na mesma hora. Doença, eu?!!?!?!!??! Claro que não. Respondi que era imigrante e que do país de onde venho isso é normal, são nossos hábitos de higiene. Isso explica porque a maioria dos nascidos aqui tem os dentes meio estragados, questão de hábito… Estranhei o Canadá quando voltei. Também! Não tem corpo que aguente suportar uma diferença de 60º C. Saí de Curitiba com uma temperatura de 30ºC e cheguei aqui debaixo de uma tempestade de neve e um frio polar de -30ºC. Você tem noção do que é isso??? Eu não tinha ainda! Uma vez eu entrei numa câmara fria dessas de açougue, sem comparação… lá dá pra se aquecer. Pelo menos todos os lugares são bem aquecidos, mesmo metro e ônibus… Não temos que trabalhar com luvas e botas ou ficar com preguiça de tomar banho por causa do frio!! hehe" Abraços a todos - Ticiana Andrade


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