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Depoimento de ex-aluna: preparação do currículo / entrevista de emprego no Canadá


"Uma das maiores dores de cabeça do processo de imigração (além, é claro, de se despedir da família, dos amigos e de se agarrar à ideia de que você está começando toda uma vida do zero) é o processo de obter um emprego novo em um país novo. Talvez não tanto pela insegurança de não ser a pessoa mais qualificada para uma determinada vaga de trabalho, mas porque o processo para a obtenção de emprego é um pouco diferente de como funciona no Brasil. Mesmo para o pessoal da área de TI, em que existe essa imagem de que “pessoal de TI não precisa nem se esforçar que chove um monte de oportunidade de emprego no colo”, há todo um processo pelo qual se deve passar, o que inclui uma série de entrevistas e um monte de customizações no currículo.


Eu pesquisei bastante sobre como funcionam as entrevistas e como os canadenses abordam a montagem de currículo e as tais das “cartas de apresentação” (vulgo intro letter). No Brasil dá-se uma ênfase à cultura de generalismo: quanto mais páginas seu currículo tiver, melhor. Não raramente, o pessoal coloca a experiência de trabalho desde a época do Ensino Médio, portfólio, álbum de fotos, nome dos pais e histórico de vacina dos cachorros. No Canadá, a coisa é um pouco diferente. Quando você for montar um currículo, uma coisa que você precisa ter em mente é: seu currículo deve ter duas páginas no máximo, e não deve conter foto, gênero, estado civil (inclusive, o empregador não pode perguntar qual é o seu estado civil) ou endereço. Seja conciso e inclua no currículo apenas aquilo que tem relevância para o seu empregador. Como contato, você só vai incluir nome, e-mail (válido e profissional, acho que não preciso mencionar que e-mails do tipo “poderoso_mago_do_além@aol” não causam uma boa impressão), número de telefone válido e, se possível, URL do seu perfil no Linkedin ou do seu website – se você tem um.


E já falando em Linkedin, essa é uma rede social bastante popular por aqui. É uma ferramenta ótima não apenas para encontrar vagas de emprego, mas também uma maneira para os empregadores encontrarem informações a seu respeito. Mantenha seu perfil no Linkedin atualizado e, é claro, na língua do lugar em que você pretende trabalhar, seja inglês ou francês. Desnecessário dizer, mas pelo amor de tudo que é mais sagrado no universo, faça uma bela de uma revisão gramatical no seu currículo e no seu perfil do Linkedin. Se possível, peça para alguém com proficiência na língua-alvo fazer um proofreading.


Dica extra com relação ao Linkedin: enquanto ela é uma boa vitrine para suas qualificações profissionais, é interessante incluir algo bem curtinho a respeito de algum hobby ou algo que você goste de fazer no seu tempo livre, só para seu potencial empregador não achar que você é um bot. Não apenas porque isso dá um toque mais humano no seu perfil, mas porque isso também vai dar uma ideia de como você vai se encaixar naquele ambiente de trabalho, e possivelmente aumentar as suas chances de encontrar um grupo com o qual você tenha uma compatibilidade maior.


Quando você for mandar um currículo para uma empresa na qual você tenha interesse, você vai precisar escrever a tal da intro letter, e é bom ter um cuidado especial com ela: não mande uma carta padrão para todas as empresas. Sabe aquelas que seguem um padrão e você praticamente só muda o nome da empresa e manda? Pois é, elas não são muito bem-quistas (e abrem margem para você esquecer de mudar o nome e mandar para a empresa errada). O ideal é você se informar sobre os diferenciais da empresa (Glassdoor é um site ótimo para fazer isso) e escrever uma carta especialmente para ela, dizendo por que você você tem interesse em trabalhar lá e por que acha que se adequaria bem naquele ambiente.


Quanto às entrevistas (também conhecidas como o pesadelo do processo empregatício), elas geralmente são divididas em três etapas que podem levar de uma semana a alguns meses, mas dependendo da empresa, você pode ter que passar por até mesmo seis entrevistas. Se você estiver procurando algo em uma empresa de porte um pouco menor ou alguma startup, o processo vai ser um pouco mais rápido e indolor, mas para grandes empresas como Amazon, Google, Facebook e afins há muito mais etapas pelas quais você tem que passar.


Quando você já mandou sua carta de apresentação e o currículo, geralmente as empresas vão responder por e-mail que têm interesse em te contactar e vão marcar um horário. A primeira entrevista geralmente é por telefone e dura cerca de meia hora, e o teor delas novamente depende do tamanho da empresa em que você está tentando conseguir a vaga. Empresas menores geralmente vão procurar te conhecer como pessoa, perguntando qual é a sua experiência, o que você fazia no seu emprego anterior e por que você resolveu escolher aquela empresa (tenha a carta de introdução em mãos e se mantenha consistente na hora de responder as perguntas). Empresas um pouco maiores e multinacionais possivelmente já vão chegar chutando a porta com perguntas de teor técnico.


Passando a primeira entrevista por telefone, você será convidado a fazer a entrevista presencial, que muito possivelmente será uma entrevista que vai testar o seu conhecimento técnico. Se você está indo para a área de TI, você provavelmente vai ser entrevistado por um grupo de engenheiros/arquitetos, que vão te passar uma série de problemas que você vai precisar resolver no quadro enquanto explica como chegou àquele resultado. A segunda entrevista tem de 3 a 5 perguntas e dura cerca de uma hora.


A menos que você esteja tentando uma oportunidade em uma das “grandes cinco” (Amazon, Google, Microsoft, Apple, Facebook), a terceira entrevista é praticamente só um “alô” com o pessoal de RH. Geralmente quando você passa da segunda entrevista, o emprego já é praticamente seu (a menos que você resolva se bicar com o CEO ou com o pessoal do RH). Nessa terceira etapa, você vai discutir com o RH qual é a sua pretensão salarial, benefícios e similares.


É basicamente isso. O processo todo parece um pouco mais intimidador do que realmente é, sobretudo se você considerar que tudo isso vai acontecer em inglês ou francês. Não se preocupe muito em falar um inglês/francês infalível; em termos gerais, o pessoal daqui é bem tolerante (e muita gente tem sotaque de outros países, então eles efetivamente se esforçam para te entender). Eu sinto que a parte em que o pessoal mais tropeça durante o processo de entrevista de emprego é muito mais os passos iniciais (manter o perfil do Linkedin atualizado, fazer um bom currículo e uma boa intro letter) do que as entrevistas em si.


E de resto, boa sorte!"

Melanie - 05/2019

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